No momento em que o futebol brasileiro vive o “boom” de novas arenas preparadas para a Copa do Mundo, outros clubes correm atrás da modernização de seus estádios, ainda que não necessariamente para servir ao Mundial de 2014. Caso de Grêmio, que trocou o Olímpico pela Arena, e Palmeiras, que decidiu reformar o Palestra Itália.
Salvador entrou na rota dos estádios de primeiro mundo com a Arena Fonte Nova. O Bahia logo acertou a volta para sua velha casa. O Vitória chegou a flertar com a moderna praça esportiva e assinou um contrato para atuar cinco partidas na Fonte – já disputou quatro. No entanto, uma mudança em definitivo esbarraria em um gigante feito de concreto e que mudou a história do clube.
Estádio Manoel Barradas, a Toca onde o Leão ruge mais forte. É lá onde o grito de “Nego! Vitória meu amor" vira mantra. É no Manoel Barradas que as letras V-I-T-Ó-R-I-A tornam-se VITÓRIA e fazem tremer rivais. Panela de pressão, caldeirão, 12º jogador. Palco que chorou lágrimas de rebaixamentos, mas que espantou fantasmas, derrubou gigantes, levantou taças e se fez o Vitória. Este é o Barradão. Peça fundamental na reconstrução do clube baiano.
Embalada por esse espírito que liga umbilicalmente Vitória e Barradão, mas sem perder o momento de modernização por que passam os estádios brasileiros, uma recém-formada arquiteta e torcedora do clube decidiu propor um novo Barradão. Fernanda Almeida fez como projeto de conclusão de curso de arquitetura na Universidade Federal da Bahia um Barradão moderno, atraente e confortável. Requisitos desejados por todos e com um diferencial que só a casa rubro-negra tem.
Um novo conceito de Barradão
Fernanda é da geração que viu o Barradão mudar a história do futebol baiano. Desde que o Manoel Barradas foi efetivado como mando de campo do Vitória em 1994, foram 14 títulos estaduais contra cinco do maior rival, Bahia. No projeto aprovado no mês passado por uma banca examinadora, a arquiteta começa propondo uma integração maior entre estádio e sociedade.
- Desde que entrei na faculdade, já tinha esse projeto em mente. Primeiro por ser Vitória. Pensei em um projeto que pudesse resolver desde os problemas na chegada até o conforto dentro do estádio. E com interação com a população para, inclusive, mudar o panorama do bairro – conta Fernanda.
Audacioso, o projeto mostra a transformação do estádio, que passaria a ter dois níveis de arquibancada. No entanto, para se adequar aos padrões Fifa de conforto e segurança, a capacidade seria reduzida dos atuais 35 mil para pouco mais de 32 mil lugares. O projeto segue várias das normas da entidade máxima do futebol, como o uso de cadeiras em todo estádio, cobertura, além de questões de acessibilidade e inclinação.
Com a ideia de ser um projeto viável não apenas para o clube, mas também para a cidade, o novo Barradão traz uma necessidade de integração entre clube e esfera pública, uma vez que a arquiteta lista questões viárias de chegada e saída do estádio como fatores determinantes para a execução do projeto.
- O projeto tem como funcionar. Em breve, o estádio vai ganhar uma estação de metrô próxima, a estação Pau da Lima, que fica a 2 KM do Barradão. Além das estações Flamboyant e Pituaçu, em regiões próximas – conta Fernanda.
Além da preocupação com a infraestrutura, a arquiteta destaca a importância do cunho social de uma obra do porte do novo Barradão. O estádio funcionaria, ainda, como um polo de concentração de rubro-negros para além dos jogos de futebol.
- A ideia é abrir o Barradão sem tirar dele o cunho privado. Mas abrir no sentido de ser uma área de concentração. É um projeto que tem duas praças, que favorece a convivência. E que as pessoas queiram passar o dia aqui. Além disso, a ideia é que o clube abrace o bairro – conta.
Formato mantido e com mais conforto
O projeto da arquiteta Fernanda Almeida mantém o formato em ‘U’ do estádio. A novidade ficaria por conta dos dois níveis de arquibancada: o nível inferior iria até a metade das arquibancadas atuais e, a partir de então, teríamos um segundo nível. O projeto do novo Barradão prevê ainda camarotes com interação com o resto do estádio e camarotes panorâmicos sem contato com os demais setores, além de museu, auditório, loja e café. Sócios teriam entradas diferentes e outras comodidades.
O diferencial do projeto é a estética. Para a arquiteta, a ideia é impactar as pessoas de diferentes percepções.
- A fachada do estádio poderá ser vista de diferentes percepções. A ideia é quebrar o ritmo, impactar desde a fachada. Por fora, a cobertura quase não é vista - explica a arquiteta.
Para Fernanda, o projeto tem viabilidade para sair do papel.
- É um projeto viável. É uma questão de investimento. Não trabalhei com valores, mas não é nada astronômico para um clube de futebol – garante.
Fernanda diz que o trabalho está aberto a uma análise de viabilidade por parte do Vitória, uma vez que, segundo a arquiteta, o projeto aponta possibilidades plenas de que o Barradão pode sofrer intervenções que enquadrem o estádio nos padrões das mais modernas arenas brasileiras
O velho Barradão continua sendo um atacante goleador, mas pode, em breve, se tornar um centroavante moderno, com mais características a serem exploradas. Certo mesmo é que ele seguirá como o melhor campo de luta do clube de tantas vitórias.
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