Da reticência ao conformismo. Do lamento ao desabafo. E, no fim, o choro, compulsivo, copioso. Assim, Fernandão deu adeus oficialmente ao comando técnico do Inter, em entrevista coletiva nesta terça-feira, no Beira-Rio, após 122 dias à frente da equipe que, anos atrás, havia defendido como jogador e capitão, erguendo inclusive a taça do Mundial de Clubes.
As lágrimas surgiram quando Fernandão começou a agradecer a lealdade de Ygor, o único jogador a ser lembrado especificamente pelo treinador, que também mencionou vagamente Índio e Muriel. A manifestação mais forte do ex-técnico do Inter surgira um pouco antes, também ao falar sobre o grupo de jogadores. Questionado sobre a polêmica entrevista em queafirmara haver jogadores em "zona de conforto", em 16 de setembro, após o 2 a 2 com o Sport, negou que tenha errado naquele momento. Entende que a falha ocorreria logo depois.
- Acho que não vou conseguir falar. Sei que às vezes é difícil, mas o Ygor me deu uma demonstração muito grande contra o Atlético-MG (vitória por 3 a 0). Estávamos sem zagueiro nenhum e ele se colocou à disposição, falou que eu não me preocupasse, que colocasse ele, disse que ia jogar. Ali, foi meu grande jogo. A atitude dele me ensinou muita coisa. Infelizmente, em um determinado momento, a gente perdeu a linha e isso prejudicou os resultados. Só lamento. Peço desculpas. Era um ano importante para o Inter. O elenco foi montado minuciosamente por todos. Acabou que, no papel, estava sempre maravilhoso, mas a gente nunca teve aqui dentro (do campo). Quando falei da zona de conforto, não estava mudando o foco do jogo contra o Sport. Não falei que botei o Cassiano e tirei um volante. Poderia ter inventado histórias. Falei o que sentia. O meu grande erro acho que não foi ali, foi depois. Fui amigo de quem não deveria ser. A gente aprende. Aprendi mais uma lição. Aprendi a separar amizade de profissionalismo. Me arrependo hoje. Agi como amigo e não deveria fazer isso. Se tivesse tomado uma atitude mais firme e não pensado na amizade, eu teria mais uma postura diferente. Fui amigo e me perdi - reconheceu, sem citar nomes.
Sobre as causas de sua demissão, Fernandão não entrou em detalhes. Disse que os jornalistas deveriam se basear na entrevista coletiva do vice-presidente de futebol Luciano Davi, concedida minutos antes. E desabafou:
Davi já havia negado que a demissão de Fernandão teria ocorrido por um temor da direção de que houvesse um eventual boicote dos jogadores sobre o treinador no Gre-Nal de 2 de dezembro, que marca a despedida do Estádio Olímpico.- Uma coisa que aprendi ontem (segunda, após a reunião decisiva com a direção). Você não pode falar a verdade no futebol. Não vou mentir, mas vou omitir. Me guardo o direito de ficar calado. Os motivos (da demissão), se são verdadeiros (que o grupo não o apoiaria no Gre-Nal), eu não posso falar nada. Só tenho que agradecer a torcida.
- Os resultados de campo influenciaram e temos a visão de que precisamos começar o ano com um técnico novo, que venha para a pré-temporada. Como o Fernandão estava contratado, por uma questão ética, a gente não podia procurar um técnico. Até por isso, falei para ele que a gente ia mudar - anunciou o dirigente.
Fernandão também soube ser crítico com ele próprio. Disse que, por vezes, lhe faltou experiência e lamenta ter "fraquejado" no momento de intervir em problemas no vestiário:
- Faltou experiência. O próximo treinador que chegar terá um projeto apresentando várias situações. Algumas coisas vão mudar, em relação a elenco. Só lamento não poder fazer parte disso. Fraquejei e não pude fazer essas mudanças no vestiário. Se existem problemas (no vestiário), a direção e os jogadores estão aí para falar. Não sou eu que vou falar. Os resultados foram horríveis, principalmente no segundo turno. O sentimento é de frustração por não fazer o time jogar.
- A minha demissão não teve nada a ver com o episodio Bolívar. Não tive problema com ele - destacou.O técnico também deixou claro que não deixou o clube devido à polêmica com Bolívar. Depois da derrota para o Corinthians, no domingo, Fernandão disse que o zagueiro se recusara a ficar no banco na ocasião. Um dia depois, Bolívar retrucou, em entrevista, que jamais iria se negar a fardar pelo Inter.
Por fim, agradeceu o presidente Giovanni Luigi e o vice Luciano Davi pela chance à frente de um equipe "muito antes do que poderia imaginar". Diante de tantas dúvidas, indagações e reticências, Fernandão tem a certeza de que vai seguir na profissão, iniciada em 20 de julho.
- É a única certeza sobre o meu futuro: seguirei como treinador - adiantou.
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