Fernando Schmidt é o novo presidente do Bahia. A primeira eleição direta da história do clube não teve surpresa. Nome mais cotado para assumir o cargo, ele foi o último a oficializar a candidatura. Mas, como diz o ditado, os últimos serão os primeiros. O professor, advogado e ex-secretário de estado foi o escolhido pelos sócios para substituir Marcelo Guimarães Filho, deposto pela Justiça após uma sequência de improbidades. Schmidt cumprirá um mandato-tampão, sem direito a reeleição, até o fim de 2014.
- É uma alegria muito grande voltar a presidir um time grande como o Bahia. Não só alegria, como uma emoção muito grande. Estou muito emocionado. Mas temos que lembrar que é outro tempo, outro momento. Mas a emoção é muito grande - afirmou Schmidt, antes mesmo da divulgação oficial do resultado da eleição.
O novo presidente possui uma história de títulos e avanço patrimonial dentro do Bahia. Entre 1975 e 1979, ele presidiu o Tricolor, era que ficou marcada pela conquista do heptacampeonato baiano. Foi também no mandato de Schmidt que o Fazendão foi construído. Ironicamente, ele assume o clube justamente no momento em que o Tricolor deixa o antigo centro de treinamento em direção à Cidade Tricolor, em Dias D’Ávila.
Um dia na história
Em um mundo onde as coincidências ganham ares de profecias, o Bahia encontrou o meio para fortalecer ainda mais a conquista da democracia. Seja por mero acaso ou de modo pensado, a primeira eleição direta para presidente do clube aconteceu exatamente no dia 7 de setembro. Nada mais simbólico. O sete, mais uma vez, na vida do clube. O sete, motivo de chacota, tornou-se a muleta da independência. O processo, iniciado no dia 9/7 se encerra em um 7/9. Puro jogo de números e datas. Muito para uma nação sedenta para ter o clube em suas mãos.
Menino, velho, branco, negro. Do mais alto escalão ao que vive nas contas do salário mínimo. Assim como no abraço do desconhecido ao lado na hora do gol, as diferenças deixaram de existir. Todos tinham apenas uma religião, apenas uma profissão, apenas uma crença e um objetivo. Um a um seguiram o desfile simbólico da independência rumo às urnas. A Fonte Nova, palco de conquistas e lutas memoráveis, tornou-se a margem do Ipiranga da nação azul, vermelha e branca.
Foi uma daquelas vitórias suadas, embate duro e com a possibilidade de comemorar somente ao apito final. Uma eleição que ocorreu após horas e horas de reunião. Uma eleição possível depois de batalhas jurídicas com direito a prorrogação no plantão da madrugada deste sábado. Mais de 50 tricolores fizeram vigília no plantão judiciário. A prática da antiga diretoria de liminares no meio da madrugada não pôde se repetir.
- Eu e mais oito advogados fomos para o plantão judiciário [nesta madrugada]. Ficaram sabendo disso na internet, e mais de 50 torcedores foram lá, me levaram comida e bebida. Algo típico de torcedor do Bahia, uma torcida diferenciada – comentou o interventor Carlos Rátis, neste sábado.
Eleições com tranquilidade
Para quem não foi ao Fórum, o dia começou cedo. Antes das 9h a fila já era grande à espera do início da votação. Os eleitores foram divididos em 24 urnas, separadas por ordem alfabética. O primeiro a exercer o direito do voto direto foi o juiz de Itabuna George Reis. Em Salvador para participar de um congresso, ele estendeu a permanência na capital por mais um dia para se sentir um pouco mais tricolor.
- É um sentimento emocionante. Sou Bahia desde pequeno. É uma emoção que passa de pai para filho. Essa é uma abertura democrática, que o país está passando e não poderia ser diferente com o clube – disse.
Durante todo o dia, os três candidatos, ex-jogadores, políticos, empresários, gente simples, idosos e crianças participaram da votação. Não houve registro de problemas ou confusão. Membros de chapas diferentes conversavam e demonstravam a esperança em um Bahia melhor.
O interventor Carlos Rátis era ovacionado a todo instante. Jovens e adultos paravam o advogados para tirar fotos. Não foram poucas as vezes em que ele era parado e, ao voltar a atenção para o interlocutor, ouvia um simples e bem sincero “Muito obrigado!”.
- Fica bem claro que precisamos demonstrar que existem pessoas sérias. Os torcedores confiaram no trabalho da intervenção. No fundo, sabemos que poderíamos ter feito mais. Mas a situação financeira é bem difícil. A chapa eleita vai encontrar muitas dificuldades para sanar os problemas. Só o débito na alimentação era de R$ 300 mil, o que é inadmissível. Hoje está sendo um dia cansativo, mas a alegria supera esse cansaço - afirmou o interventor.
Mais festejado que Rátis somente Jorge Maia. Foi ele o responsável pelas mudanças no clube. Afinal, foi o processo impetrado por Maia que deu origem à intervenção.
- Mas eu não sou nenhum herói. Lutei apenas por meus direitos, assim como outros tricolores sempre fizeram. O que importa é que hoje temos um Bahia livre – disse.
Foi com esse sentimento de liberdade que os milhares de tricolores foram e deixaram a Fonte Nova neste sábado. Nada mais simbólico do que se sentir livre no dia da Independência do Brasil. A esperança é que a liberdade não seja um hiato na história. E não é nenhum absurdo afirmar que, para a torcida a do Bahia, o 7 de setembro ganhou uma importância ainda maior. Mais do que a data da independência do país, ela se tornou o marco da democracia de uma nação.
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